As áreas mais impactadas pelas enchentes de setembro de 2023 e maio de 2024 em duas cidades do Vale serão transformadas em parques lineares ecológicos. A iniciativa será financiada com R$ 2,7 milhões, saldo final da campanha de doações via Pix, e formalizada ontem, 29, em reunião na Casa Civil do RS.
A proposta prevê a criação de parques lineares — estruturas que acompanham o leito do rio — nas chamadas “zonas de arrasto”, áreas impactadas severamente pelas cheias. Em Cruzeiro do Sul, o espaço será implantado no antigo bairro Passo de Estrela, onde a força da água destruiu centenas de casas. Em Muçum, o projeto contemplará a área onde ficava o cemitério municipal.
O projeto dos parques será desenvolvido pela Embyá Paisagismo, empresa do Rio de Janeiro com atuação reconhecida em iniciativas voltados à sustentabilidade urbana e à resiliência ambiental. Segundo o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano, Marcelo Caumo, a ideia é dar nova função a áreas que deixaram de ser seguras para moradia.
“Esses dois municípios foram profundamente marcados pelas enchentes. A construção desses parques, com soluções baseadas na natureza, é uma forma de ressignificar o espaço e olhar para o futuro com mais esperança. Começamos por Cruzeiro do Sul, cujas imagens circularam o mundo ano passado. E Muçum, que foi o marco da enchente de 2023”, afirma.

Solenidade na Casa Civil confirmou assinatura de contrato com empresa do Rio de Janeiro. (Foto: Gustavo Mansur)
Drenagem natural
Os projetos paisagísticos não terão apenas função ambiental ou estética. A proposta é unir recuperação ecológica, preservação da memória coletiva e uso social qualificado. Os parques serão pensados para também servir como áreas de drenagem natural, ajudando a amortecer impactos de novas cheias. O desenho incluirá espaços de lazer, convivência e contemplação.
“Esses projetos trabalham com a questão ambiental, mas também com o lado cultural e com uma mensagem simbólica. A ideia é que os parques representem um marco. Algo que relacione tudo o que a região viveu”, explica Caumo.
A área prevista para o parque em Cruzeiro do Sul é de 249 mil metros quadrados. Em Muçum, o espaço será de 28 mil metros quadrados. A equipe da Embyá inicia nesta semana as vistorias de campo e terá 120 dias para concluir os projetos. Depois disso, os municípios abrirão licitação para a execução das obras, com expectativa de que os parques comecem a sair do papel até o fim do ano.
O prefeito de Cruzeiro, Cesar Leandro Marmitt, afirma que a ideia também é incluir um memorial nas estruturas. “Pretendemos construir, depois do parque pronto, um espaço de lembrança para as pessoas que pereceram. É uma forma de marcar a tragédia, mas também de homenagear as vidas perdidas.”
Definição da empresa
A contratação da Embyá para elaboração dos projetos se deu por meio da Federação Varejista do RS, que operacionaliza o repasse dos recursos doados e fará o pagamento conforme o andamento das etapas. O governo atua como articulador e responsável pela gestão dos projetos.
A iniciativa marca ainda a etapa final de destinação dos valores arrecadados pela campanha SOS Enchentes RS, organizada pelo governo estadual logo após a catástrofe de setembro de 2023. Ao todo, foram recebidos cerca de R$ 142 milhões em doações.